quinta-feira, 30 de novembro de 2006

Comida chinesa

Dentro do biscoito da sorte encontrei a frase:

Suas mãos devem estar mais ocupadas que sua língua.

Não sabia que davam esse tipo de conselho.

quarta-feira, 29 de novembro de 2006

Cores

Essa discussão é velha. Lembro de ter conversado isso com o João no primeiro ano, e ele também já tinha pensado isso.

A teoria conspira na incapacidade de saber se as cores são as mesmas para as mesmas pessoas.

É simples: ninguém pode ver pelo olho da outra pessoas. E como o nome das cores é socialmente definido, na impede de que o mundo tenha configurações diferentes para as diferentes pessoas.

As cores não são cores, são palavras. Imagine a "cor" A - ela pode ser vermelho no meu olho e azul no seu olho, mas se todas as pessoas forem ensinadas que o nome dela é "A", todo mundo vai entender, e não haverá conflito.

De outra forma: meu vermelho pode ser diferente do seu vermelho, porque cada pessoa é diferente uma da outra. Mas nunca saberemos, porque existe uma cor com esse nome (que pode ser diferente para as pessoas - e esse é o ponto) que as duas pessoas classificam como vermelho.

E aí não só para as cores - cheiros, sabores, sensações do tato. Como os nomes são convencionados, não há conflito, e nem mesmo comparação. E não pode haver.

Isso poderia levar a uma nova concepção de gosto - complicado e não desenvolvido (mesmo porque o que posto aqui é bem improvável).

quinta-feira, 23 de novembro de 2006

VELAZQUEZ, Diego - Las Meninas


Essa obra é uma das obras mais interessantes que eu pude ver no meu curso de Históra da Arte da faculdade.

À primeira vista ela é "descolada" - mas na verdade é genial.

Antes: Velazquez é um dos maiores pintores espanhóis da toda a história. É, talvez, o maior expoente do Barroco (espanhol com certeza). Era pintor exclusivo de Filipe IV - o Grande. A época também é importante: governos absolutistas + contra-reforma em um país católico.

Mas o Barroco não é só religioso - é também a arte que começa a apresentar cenas mundanas, contidianas. Contidiano, mas a serviço, sempre, das elites dominantesº.

A genialidade do quadro é perceber como ele está sendo pintado - a referência espacial. E como você se coloca diante a ele.

Ah, o quadro representa uma garota da corte sendo "afeitada" pelas amas.

Como disse, à primeira vista ele é descolado: "oras, Velázquez colocou um espelho, e está pintando o que vê". Alguns aspéctos formais bem claros¹: o acentuado contraste entre claro-escuro para dirigir o olhar do espectador e a linha que separa a parte de baixo da figura (aonde se encontram a maioria das representações humanas) e a parte de cima (formados por quadros, o que seja) [essa "linha" está entre a porta e os quadros].

Porém um quadro chama a atenção. À esquerda da porta (em referência ao espectador) vemos um quadro mais claro. Como já dito, no Barroco, o que está "claro" é o que se deve ver. Ele não é só importante por estar claro; a representação saindo pela porta (ou entrando) parece apontar para o quadro.

Nesse quadro está a figura do rei Filipe IV e sua esposa.

Agora o que intriga: aquilo pode não ser um quadro, mas sim um espelho. [Naquele momento acabara de ser inventado o espelho plano, e pela primeira vez as pessoas podiam se ver sem deformações.] Pode ser um espelho porque nós não sabemos o que está sendo pintado na tela representada (aquele com a paleta na mão é o próprio²) - Velazquez pode "estar fazendo" um retrato do rei, e a tela reflete esse momento de criação. Ou não - ele está olhando para um espelho, e a tela que pinta dentro da tela é o que vemos na arte final, e o quadro é quadro.

A intriga é a parte genial, pois a dúvida está justamente no local onde estamos nós, observadores. Ou seja, "a dúvida somos nozes³". E a tela se interpreta pelo ponto de vista que você quer ter: você pode ser o rei, ou pode ser o espelho. Ou você é o poder, ou você só é reflexo desse poder (dessa sociedade). Ou você age, ou o que tem a fazer é observar*. Essa era a sociedade absolutista em que Velazquez vivia.

Bravo.


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º essa questão pode ser amplamente discutida - e eu mesmo não acredito em uma pejorativa tão dura - mas uma coisa é certa: a arte (e principalmente naquele momento; não que hoje não ocorra) reflete os valores da classe dominante.

¹ existem alguns outros aspéctos formais que não são tão claros - se tivéssemos um close da obra veríamos que Velázquez não pinta com o que vulgarmente chamamos de "contorno" - ele faz pinceladas rápidas, e o contraste entre as cores é o que delineia a forma das representações (ao contrário do Renascentismo).

² ele não andava com aquelas roupas normalemente, nem às usava para pintar. Aquela roupa é sua vestimenta de Cavaleiro do Rei** (é isso que a cruz vermelha significa).

³ erro proposital - ver "Árvezes semos nozes"

* frase da segunda edição - originalmente "Ou você age, ou você observa". Não existe prerrogativa revolucionária, ou de qualquer tipo de ação, na obra.

** nota: a vestimenta também é importante [mas coloco sua importância aqui, pois não pode ser compreendida sem a leitura total do texto - e eu não sei em que ordem vocês lerão as notas]. Velazquez não usava aquelas roupas normalmente, nem durante seu ofício. Ele poderia ter se vestido especialmente para esta ocasião (e assim se retrata diante um espelho - e você é o espelho) ou a usava por esta na presença do rei (e era de se esperar que usasse em momentos importantes - e com o rei todos os momentos são importantes - e você é o rei). Mas uma coisa é certa: ele está apresentando sua posição em sua sociedade.

[indispensável notar que não há charada - há interpretação]

domingo, 19 de novembro de 2006

Paixão (em três linhas)

Hoje à noite sonhei com ela.

Ela era só minha.

E só lembrar me faz ter sono.

sexta-feira, 17 de novembro de 2006

Com todo o respeito

Tá certo, eu paro de passar a mão em você.

Logo após você sair de cima dela.

quinta-feira, 16 de novembro de 2006

Na Mesma Linha

Declaração prática de amor

Veja, o amor de nós dois custa pouco. Está aí a justificativa econômica. Agora façamos como fazem hoje em dia depois de ouvirem a justificativa econômica: não perguntemos mais nada.

quarta-feira, 15 de novembro de 2006

coincidência ?!

... é a música que começou a tocar na rádio combinar exatamente com o momento.

domingo, 12 de novembro de 2006

Fragmento do dia primeiro de novembro

Lembro que estava um pouco atrasado, mas podia parar pra beber alguma coisa no caminho. Cheguei ao balcão (de um lugar sem nome) e pedi qualquer coisa que tivesse cafeína. Só quando a bebida foi colocada na minha frente olhei direito para a moça que me atendia. Era muito bonita. Só isso?, ela perguntou, é, dois reais. Dei cuidadosamente as moedas e nossas mãos se encostaram um pouco. Era muito bonita, mas acho que não lembro mais do rosto dela, lamentavelmente. Nunca mais a verei, é provável. Ela não me esqueceu - não chegou a reparar em mim.

Queria que ela tivesse olhado para mim surpresa, perguntando você não é aquele que escreve pro Chinoca do Aceguá?, sou eu mesmo, e aí começaríamos a conversar. Eu deixaria minhas tarefas atrasadas para outra hora e ela ficaria ali comigo até alguém chegar e pedir para ser atendido.

Mas saí de lá logo em seguida. E agora resta pouquíssimo: uma imagem meio vaga de sua face, sua voz nas quatro palavras que me falou e a sensação banal e sem importância das nossas mãos quase juntas, enquanto trocava moedas pela bebida que me deixaria acordado, inevitavelmente pensando nela.

sexta-feira, 10 de novembro de 2006

Epifanias: versos

Lembrei hoje, sem motivo, como uma epifania:

"O Tejo é o rio mais belo que corre pela minha aldeia
Mas o Tejo não é o Rio mais belo que corre pela minha

[aldeia".

Postem seus versos. Como lembrarem. Mas sem querer lembrar.

terça-feira, 7 de novembro de 2006

pós-modernidade à brasileira (deve ter continuações)

Uma madame com veias esquerdistas cruza a Oscar Freire com nojo das outras madames que nem sequer estão preocupadas com a desidratação das mãos dos pedintes.
Diz ela, salutar, que os pobres tem o seu próprio jeito de ser, e que é errado dizermos que eles são ignorantes, por falarem "crássicos" em vez de clássicos. O que importa é que tenham acesso a alguns livros úteis, desses best sellers de grandes empreendedores ou reader's digest. Ler é sempre bom. Mas que castigo também dar a eles os clássicos logo de início!

"Eles, continua sua inferência, são maravilhosos. Têm uma simplicidade na hora de ver as coisas, que eu, quando vou a minha manicure fico impressionada com os conselhos que a Neide me dá. E é uma filharada bonita de se ver.

É tão bonito o jeito de eles levarem a vida, tão rústico. Sempre que posso compro roupas das confecções produzidas em favelas, esse kitsch deles me fascina."

A madame diz não ter preconceitos de nenhuma ordem, mas sentencia: "Eles têm o estilo de vida deles, que eu admiro muito. Mas eu sou fraca, acho que não conseguiria viver a vida que eles levam não. Eles são muito fofos."

domingo, 5 de novembro de 2006

Ajustem seus relógios para o horário de verão.

Agora são 15:21.