domingo, 12 de novembro de 2006

Fragmento do dia primeiro de novembro

Lembro que estava um pouco atrasado, mas podia parar pra beber alguma coisa no caminho. Cheguei ao balcão (de um lugar sem nome) e pedi qualquer coisa que tivesse cafeína. Só quando a bebida foi colocada na minha frente olhei direito para a moça que me atendia. Era muito bonita. Só isso?, ela perguntou, é, dois reais. Dei cuidadosamente as moedas e nossas mãos se encostaram um pouco. Era muito bonita, mas acho que não lembro mais do rosto dela, lamentavelmente. Nunca mais a verei, é provável. Ela não me esqueceu - não chegou a reparar em mim.

Queria que ela tivesse olhado para mim surpresa, perguntando você não é aquele que escreve pro Chinoca do Aceguá?, sou eu mesmo, e aí começaríamos a conversar. Eu deixaria minhas tarefas atrasadas para outra hora e ela ficaria ali comigo até alguém chegar e pedir para ser atendido.

Mas saí de lá logo em seguida. E agora resta pouquíssimo: uma imagem meio vaga de sua face, sua voz nas quatro palavras que me falou e a sensação banal e sem importância das nossas mãos quase juntas, enquanto trocava moedas pela bebida que me deixaria acordado, inevitavelmente pensando nela.

Um comentário:

A Esquesita disse...

Mito!!!
Acho que nem eu, visitadora frequente do Chinoca do Aceguá, o reconheceria.
O texto é lindo, e bem honesto (pelo menos eu achei), rss.

Um grande abraço e minha adimiração.