Fragmento do dia primeiro de novembro
Lembro que estava um pouco atrasado, mas podia parar pra beber alguma coisa no caminho. Cheguei ao balcão (de um lugar sem nome) e pedi qualquer coisa que tivesse cafeína. Só quando a bebida foi colocada na minha frente olhei direito para a moça que me atendia. Era muito bonita. Só isso?, ela perguntou, é, dois reais. Dei cuidadosamente as moedas e nossas mãos se encostaram um pouco. Era muito bonita, mas acho que não lembro mais do rosto dela, lamentavelmente. Nunca mais a verei, é provável. Ela não me esqueceu - não chegou a reparar em mim.
Queria que ela tivesse olhado para mim surpresa, perguntando você não é aquele que escreve pro Chinoca do Aceguá?, sou eu mesmo, e aí começaríamos a conversar. Eu deixaria minhas tarefas atrasadas para outra hora e ela ficaria ali comigo até alguém chegar e pedir para ser atendido.
Mas saí de lá logo em seguida. E agora resta pouquíssimo: uma imagem meio vaga de sua face, sua voz nas quatro palavras que me falou e a sensação banal e sem importância das nossas mãos quase juntas, enquanto trocava moedas pela bebida que me deixaria acordado, inevitavelmente pensando nela.
Um comentário:
Mito!!!
Acho que nem eu, visitadora frequente do Chinoca do Aceguá, o reconheceria.
O texto é lindo, e bem honesto (pelo menos eu achei), rss.
Um grande abraço e minha adimiração.
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