quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

SobreNatural

Hoje cheguei em casa da faculdade e minha mãe estava vendo o SuperPop, aonde o "paranormal" do programa dizia que atores que fazem personagens ligados a paranormalidades, se tiverem um espírito sensível, podem abrir seus leques para a recepção de forças "sobre-materiais" e que, se esses indivíduos não tiverem a alma protegida, poderão receber só maus-espíritos e que teria problemas na "vida-de-verdade".

Ele até chegou a citar o maninho que faz a novela das 6, agora, que pegou pneumonia, viroses, já foi afastado das gravações várias vezes, etc.

O que, seria, então, uma alma protegida? Ele falava assim: "a alma tem que ser protegida por Deus". Uma convidada "atriz" que estava no programa perguntou: "e se ele for de outra religião, tipo budista?", e o médium dizia: "se ele for budista, ele vai meditar para encontrar Deus".

Ou seja, a resposta é Deus. Só que, desculpem-me alguns, mas existe a possibilidade de Deus não existir, em espírito ou como seja. Mas a fé existe, e é isso que o médium deveria ter falado - e não falou porque ele não quis, e não porque quis falar e se expressou mal.

A fé ajuda as pessoas porque as pessoas acreditam naquilo em que elas têm fé. Simples assim. A Igreja, seja ela qual for, ou a religião, só funciona se você acreditra nela, e, se você acredita, ela realmente funciona.

Lembro de um texto que li em algum momento na minha vida escolar que falava alguma coisa assim:

"As plantadoras de batata, ao plantarem as sementes, fazem uma dança ritual, e acreditam que o sucesso da lavoura está ligado a essa dança. Qualquer um de fora sabe que o sucesso de uma colheita futura está ligada a outros fatores, como o cuidado com a plantação e condições climáticas e do solo. Só que, ao fazer a dança, essas mulheres acreditam que a lavoura será protegida pelos deuses, empenham-se mais em seu trabalho, e, no final das contas, a dança influencia diretamente para o sucesso da colheita".

A fé funciona assim: uma vez que se acredita em alguma coisa, você melhora seu estado psicológico, o que faz com que você consiga realizar tarefas, e de fato viver sua vida, de uma forma melhor.

Existe um documentário sobre fisíca-quântica que deixa isso bem claro, e vai mais longe - toda a sua limitação física, está, de fato, na sua cabeça, e que, se você realmente acredita que pode fazer alguma coisa, realmente acredita, você poderá fazê-la; seja andar-sobre-as-águas ou voar - Matrix!

Uma coisa é certa - a fé pode, e provavelmente vai melhorar a sua vida. Seja em algum deus, na ciência, comunismo-revolucionário, o que for. O que diferencia o homem dos outros animais e que está presente em todas as sociedades humanas, é o fato do homem ter criado símbolos com significado abstratos e uma explicação para sua existência - o que chamamos de religião. É quase impossível imaginar que o homem possa viver sem essas duas coisas.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

A fantástica epopéia de Ulisses na Terra do Carnaval e sua fantástica alegoria no país do futebol - uma história do negro africano

De cada 10 sambas-enredo,

5 são sobre o descobrimento do Brasil e/ou índios
3 são sobre a África
1 é sobre a Língua Portuguesa
1 é sobre os 10 mandamentos, os 7 pecados capitais ou os 7 anões da Branca de Neve.

terça-feira, 20 de fevereiro de 2007

O abandono do Bloco

Seguimos o bloco de carnaval. Foi a primeira vez que o fizera. Descemos as ruas, cantamos, ficamos tristes junto à banda, cabisbaixos junto àquelas pessoas delirantes, bebemos, ou seja, fizemos tudo que tínhamos direito.
As marchinhas mal cantadas, as poucas pessoas no bloco, a péssima cadência da percussão, tudo isso era perdoável. Carnaval é carnaval e se perdoa tudo, talvez algumas traições apenas sejam imperdoáveis, ou filhos ilegítimos, mas os filhos ilegítimos não chegam nem aos pés do que acontecera naquela segunda feira de carnaval.
Não passara muito tempo de caminhada, a banda, que era seguida por um carro de polícia, pára ao lado de uma discoteca. Sei que não se usa mais essa palavra “discoteca”, e que logo será eliminada dos próximos dicionários, mas no momento não sei definir aquele lugar. Foi aí que a banda chegou e o “mestre”, depois ordenar que a bateria tocasse um pouco em frente ao lugar, disse “vamos entrar galera!” e, indo junto com seus comparsas de bateria, nunca mais voltou.
Aquilo nos fez refletir um pouco, afinal, que raio de bloco de carnaval é esse que deixa seus foliões à deriva? E o que eles queriam que nós pensássemos daquele bloco, se a banda é dessas que entra numa festa para escutar música eletrônica?
Ficamos lá parados um tempo, completamente sem ação. Sem fé, sem esperança. Iríamos embora para nossas casas talvez, fazer o que. Sabíamos a nuvem de decepção que nos cobria, eles nunca iriam voltar, esses lugares dão drinques gratuitos para músicos, sabíamos disso, pois temos um amigo músico.
Na hora pensamos em tudo ser uma jogada publicitária: a discoteca organizava um bloco, e tentava promover seu nome. Devem ter pensado: "Ora, todos vão entrar lá, vão estar no embalo do carnaval". Sendo isso ou não a razão do abandono, não importava, para nós foi isso que pareceu, então era.
E se era, não deu certo, nós fomos embora melancólicos, sim, como todo bom fim de carnaval. Sentimos, no entanto, um gostinho de vitória contra as jogadas de marketing pois sabíamos que em muitos lugares do Brasil não se podia ter o mesmo gosto.

domingo, 18 de fevereiro de 2007

O fato é o seguinte:

acabei de encontrar em uma gaveta um texto que claramente foi escrito em uma máquina de escrever e seu titulo é: Introduão à informática.

eu achei isso bem bonito, agora o debate e a analise fica por conta de vocês

só estipulo uma regra, fica proibida a citaçao de Marques e Nitxe

quando vi Marques ser citado em uma discução sobre carnaval foi a gota de água

eu odeio intelectuais que ficam louvando essas duas figuras

sou ignorante mas fui eu que achei o texto, minha familia que garda velharias na gaveta, então eu proponho a discuçao como eu quisar

sem mais

sábado, 17 de fevereiro de 2007

Nobre Carnaval 2

Sempre vejo esses livros aonde vários autores escrevem sobre um mesmo tema. Resolvi escrever sobre o carnaval também.

Para mim o Carnaval tem uma valor especial, que talvez seja difícil as pessoas entenderem. Porque a mairoia das pessoas querem saber de encher a cara e fazer festa no Carnaval, e eu, mesmo não podendo dizer que não gostaria de encher a cara (ou pelo menos dispensaria sem pensar uma bebedeira), não quero muito saber de festa, não.

Moro na avenida Paulista, e minha rotina é bagunça. Minha rotina é sair na rua e ver pessoas comuns, pessoas exóticas, barulhos diferentes, cores e formatos exóticos. Som, luz e energia estão comigo sempre - mesmo quando durmo com a janela-virada-para-rua.

Quando chega o Carnaval, qualquer pessoa escolheria viajar, e sair dessa zona nos dias em que se tem folga. Eu, ao contrário, fico. Não tenho problemas com minha casa, ou com minha cidade - realmente gosto de viver aonde vivo - e, no carnaval, quando todos viajam, a cidade de São Paulo, e especialmente a avenida Paulista fica com um ar de bairro; os bares, restaurantes e lojas continuam abertos, mas as pessoas andam com mais calma, bebem com mais calma, se divertem com mais calma. São essas horas sem-pressa que me encantam na semana de carnaval, mesmo ficando na cidade e fazendo atividades da cidade - só que como se meu dia tivesse 50 horas, e eu pudesse acordar a hora que quisesse.

Outros feriados não tem esse gosto. O Carvanal dá a impressão de que quem quer zonear, viaja. Quem quer se "divertir na calma" fica aqui, senta, pede uma ampola para refrescar o calor e vê a noite acabar sem pressa.

Nobre Carnaval

Todo o ano nesse período eu faço uma pequena reflexão em que me pergunto por que eu não gosto de carnaval.

Minha reflexão dura 14 segundos, e sempre decido ao final continuar não gostando do carnaval. Não chego nem a decidir, porque a dúvida nunca rondou minha cabeça. Apenas lembro porque não gosto. (há muitas coisas que não gostamos e não lembramos porque).

Será a aglomeração, o suor, a música alta, as reportagens televisivas sobre qualquer velhinha amante do carnaval, a pretensa unidade cultural do país, os chinelos quase sempre perdidos? Talvez. Será a falsa "despirocagem" de jovens virgens, a falsa "despirocagem" de pessoas não-virgens que perderam seus chinelos e estão bêbados? Pode ser. Será a mais completa exaustão do assunto "Carnaval" durante o período do carnaval em todos os meios de comunicação, todas as rodas de amigos, todos os meios familiares, todos os clubes narcóticos, alcoòlicos?

Certamente. Não aguento mais. Também não gosto dessa rendição incondicional para a diversão imposta pelo carnaval. E se eu quiser ficar triste na segunda feira de carnaval, quem vai me impedir, hein?

Acho o carnaval uma manifestação cultural curiosa. Sei algo sobre a história do carnaval, a origens e as tendências, sua relação com a identidade brasileira, e isso me basta.

Uma vez me disseram que era primitivo que um povo precisasse de uma válvula de escape como essa numa semana do ano. Válvulas de escape não são nada primitivas. Não critico o fato do carnaval ser uma expiação. Acho até bom o índio se vestir de senador do império. Há muita beleza nisso.

As pessoas no entanto, conseguem transformar algo que inicialmente deveria ser interessante em uma pisada no saco com chuteiras de trava.

Mesmo não tendo forças neuróticas para ser europeiamente contra as válvulas de escape, não vejo a hora de começar a quaresma.

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

Acontecimentos me fizeram pensar muito nas espectativas das pessoas.

Porque, por bem ou por mal, as pessoas vivem fazendo planos, pela simples precaução de evitar o sentimento desconfortável de ser pego de surpresa.

Então elas vão planejando tudo. Tudo. E todo mundo sabe o que acontece com o que se planeja: metade se esquece, outra parte não se usa porque nada ocorreu para que você pudese atuar da maneira que esperava e uma terceira parte, menor, acontece, a curto ou longo prazo, em ocasiões de grande ou de mínima importância.

Mas toda a precausão para evitar o desconforto de não ter uma resposta, vem, no fundo, do fato de que acreditamos que em nossas vidas existem momentos ordinários e momentos especiais.

Momentos ordinários são todos os momentos que não são especiais, aonde se é espontâneo.

Momentos especiais são aqueles momentos-chave para sua vida, aqueles que seriam como bombas-relógios e que, em 5 segundos, teríamos que dar uma resposta exata, senão acabaríamos com nossas vidas. Isso leva ao chavão de que "o tempo cura a tudo"; o tempo não cura nada, o que acontece é que as coisas que você realmente acha que são importantes não o são - principalmente na idade que eu tenho agora.

O que me faz lembrar que, de fato, resultados vêm a longo prazo. A agonia de resolver vem da impaciência de esperar que as coisas aconteçam mais ou menos da forma que acontecem mei ou menos no tempo que devem acontecer.

Então, as espectativas da sua vida são mais ou menos as seguintes:

1- imponderáveis do destino, momentos especiais aonde você vai ter pouco tempo para decidir a sua vida;
2- resolução de pendências, aonde você encontra as incertezas da sua vida e as resolve, sem esperar.

Errado. Você não tem uma consulta marcada com o resto da sua vida, e nunca terá, em sua cabeça, a capacidade de prever o que vai te confrontar durante seu percurso nessa vida. A espera é uma opção como todas as outras, e talvez seja até ousado esperar, já que os resultados aparecerão a longo prazo, mesmo que você tente descobrí-los agora.

terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

Menino do Engenho

Das reminiscências da minha infância, a que tenho com mais clareza é a de minha mãe pedindo para eu trazer tudo o que é coisa para ela. De copo d'agua a pão na padaria da rua Piracuama, de produtos de limpeza a recados da minha prima Lili.
Aquilo me deixava encucado. Por que que ela não vai lá buscar? E curioso é que após eu ter crescido alguns anos, e virado um projeto mais ou menos acabado de rapaz, os pedidos foram diminuindo gradualmente, e nunca entendi por que também. Hoje entendo, é porque eu era um menino, e enquanto se é menino, é isso que se tem que fazer.
A tradição tem origem provavelmente no período colonial, no ciclo da cana de açucar. O engenho era uma estrutura social quase completa, economicamente, culturalmente falando. Num engenho tinha tudo. Mas nem tudo era perto. A capela ficava perto da casa grande, mas e se eu quisesse avisar o escravo Cosme lá na casa de purgar que a mulher dele o estava procurando? Não dava para ter empregados, porque num engenho não há empregados. Ou você trabalha num eito, temporariamente por um pequeno salário, ou é escravo. Quem não faz um dos dois ou é branco ou é menino. E como os brancos ficavam encarregados do ócio e da administração do engenho, os meninos é que faziam esses serviços marginais que literalmente consistiam em buscar e trazer coisas. O menino não é um escravo, o menino é um menino.
O menino é um agregado, pode ser um filho de escravo que quiseram que ficasse na fazenda, pode ser um filho ilegítimo do senhor de engenho com uma escrava.
Na Bahia, dado o hábito brasileiro das famílias não serem propriamente de sangue, mas de convívio, todos tem pelo menos um menino. Fica então o Jorge Amado sentado numa rede, vestindo uma camisa branca de renda, com uma calça e uma sandália de couro brancas, esquecido da vida, tranquilo. Quando quer alguma coisa, ele grita: "Ô menino, vem me buscar um suco e aproveita e diz pro velho José Paulino que o vigário quer todo mundo na procissão de amanhã!". E o menino vai.
Jorge Amado não explora ninguém, afinal, ele também já foi menino de alguém. É uma fase da vida. Nessa fase buscamos e trazemos coisas para os outros, é normal, e não é para se questionar. Na nossa ordem social o menino ocupa uma função social, enquanto nas outras sociedades ele fica brincando só. É cansativo, mas se temos um menino a disposição, porque não usá-los?
Na sociedade colonial, os meninos tinham sua primeira experiência sexual muito cedo, com uns doze anos. Vale perguntar se depois da primeira vez eles deixavam oficialmente de ser meninos. Isso eventualmente explicaria a pressa.
[Aos auntênticos brasileiros é válido se ter nostalgia da época colonial, só não podemos esquecer que tudo isso se misturava com a vergonha da escravidão, que nossa bandeira manchou-se de sangue por dois séculos.]

domingo, 4 de fevereiro de 2007

Banditismo

Estava pensando nas vantagens de entrar para o mundo do crime após acabar uma faculdade.

Porque, quando se é bandido, você tem medo de ser preso. Mas aí com uma faculdade você fica em cela especial, o que já dá mais vantagem apra entrar no mundo do crime.

Quando falo de crime não falo de violência, porque é diferente. A não ser que você seja um matador de aluguel, um pistoleiro - aí é estiloso.

No crime tem espaço para todo mundo. Não há necessidade de "lutar pelo seu lugar" ou "ter que ser eficiente para não ser demitido" (é como dizem - "do mundo do crime não se volta"). Você não precisa passar em concurso público, por exemplo, para ser estelionatário. E o melhor: no crime você faz seu horário - vira autônomo. Trabalha quando quer.

E mesmo sendo autônomo você pode fazer carreira na vida do crime. Tem crianças que entram com 8, 9 anos, e realmente tentam fazer carreira (literalmente, até) e ser um profissional bem-sucedido.

Pensem bem, crianças.