sábado, 17 de fevereiro de 2007

Nobre Carnaval

Todo o ano nesse período eu faço uma pequena reflexão em que me pergunto por que eu não gosto de carnaval.

Minha reflexão dura 14 segundos, e sempre decido ao final continuar não gostando do carnaval. Não chego nem a decidir, porque a dúvida nunca rondou minha cabeça. Apenas lembro porque não gosto. (há muitas coisas que não gostamos e não lembramos porque).

Será a aglomeração, o suor, a música alta, as reportagens televisivas sobre qualquer velhinha amante do carnaval, a pretensa unidade cultural do país, os chinelos quase sempre perdidos? Talvez. Será a falsa "despirocagem" de jovens virgens, a falsa "despirocagem" de pessoas não-virgens que perderam seus chinelos e estão bêbados? Pode ser. Será a mais completa exaustão do assunto "Carnaval" durante o período do carnaval em todos os meios de comunicação, todas as rodas de amigos, todos os meios familiares, todos os clubes narcóticos, alcoòlicos?

Certamente. Não aguento mais. Também não gosto dessa rendição incondicional para a diversão imposta pelo carnaval. E se eu quiser ficar triste na segunda feira de carnaval, quem vai me impedir, hein?

Acho o carnaval uma manifestação cultural curiosa. Sei algo sobre a história do carnaval, a origens e as tendências, sua relação com a identidade brasileira, e isso me basta.

Uma vez me disseram que era primitivo que um povo precisasse de uma válvula de escape como essa numa semana do ano. Válvulas de escape não são nada primitivas. Não critico o fato do carnaval ser uma expiação. Acho até bom o índio se vestir de senador do império. Há muita beleza nisso.

As pessoas no entanto, conseguem transformar algo que inicialmente deveria ser interessante em uma pisada no saco com chuteiras de trava.

Mesmo não tendo forças neuróticas para ser europeiamente contra as válvulas de escape, não vejo a hora de começar a quaresma.

4 comentários:

Renato Siviero dos Santos disse...

"O Carnaval, como todo evento de massa, é onde as pessoas se sentem mais unidas por atuarem de uma forma só, e de uma forma que não exige reflexão.

Tão entorpecente quanto a religião"

Karl Marx - psicográfado por mim mesmo.

"Ações de massa não são ações sociais"

Max Weber - isso ele falou mesmo.

Renato Siviero dos Santos disse...

Ah, e vale deixar claro que o Diogão quer acabar com o Carnaval se for presidente.

Coisa que será usada contra ele por seus opositores quando ele se eleger.

Diogo Bardal disse...

Nah, não quero acabar com o carnaval. Só não gosto.

O carnaval talvez seja o ponto máximo do fetiche. Mas o fetiche existe em vários tipos de sociedade, até aí tudo bem. Na sociedade capitalista ele se relaciona com a troca de mercadorias, com a reificação. Logo o espetáculo do carnaval, como hoje se faz, é uma imagem, quase que uma condensação do capital num pacotão mercantil, numa "experiência". Dessa forma, como Marx pontua no seu estudo sobre as mercadorias, as propriedades do carnaval, desse pacotão mecantil, acabam aparecendo como atributos daqueles que possuem a maercadoria, ou seja, nosso povo? E os atributos do nosso povo aparecem como atributos do carnaval.

Uma festa não fetichizada seria uma expressão autêntica das características do povo. Por isso digo que o carnaval deveria mesmo era ser triste, já que lembra que aquela alegria é temporária.

O brasileiro aparece coisificado na figura do carnaval, não? Extremamente limitado. Sabemos que o brasileiro tem atributos que vão além da festividade do carnaval, no entanto não é isso que aparece nos meios de comunicação, no imaginário dos brasileiros.

É famosa inversão hegeliana apontada por marx, em que o particular aparece como universal, e o universal como particular.

É mais uma evidência de que o riso, representado na festividade carnavalesca, não é transgressor, ele na verdade hoje em dia está assentado no poder estabelecido, vide contratos milionários de transmissão de TV, turismos de experiencia administrados por blocos internacionais de capital ao redor do mundo, etc, etc. O riso está no poder, como disse Baumanm.

Não sei se viajei demais. Devo tê-lo feito. Preferi não dizer isso no texto pois teria que fazer uma consulta e tal, pra não falar besteira.

Se eu não me engano. Weber estabelece que a ação de massa não é uma ação social porque ela é desprovida de significado ou sentido próprio, ou seja, algo que somente o individuo pode fazer em primeiro lugar, é isso? Ai ele se relaciona com os outros individuos

Mas hoje toda a organização do carnaval, das escolas de samba por exemplo, é uma ação social racional, há toda uma burocratização do carnaval e tudo mais, não eh?
A festa do carnaval também não é uma ação tradicional, ou afetiva em certos momentos?

Renato Siviero dos Santos disse...

Eu não falei que o Carnaval não é uma ação social.

Falei que as ações de massa não são sociais. =)