quinta-feira, 23 de novembro de 2006

VELAZQUEZ, Diego - Las Meninas


Essa obra é uma das obras mais interessantes que eu pude ver no meu curso de Históra da Arte da faculdade.

À primeira vista ela é "descolada" - mas na verdade é genial.

Antes: Velazquez é um dos maiores pintores espanhóis da toda a história. É, talvez, o maior expoente do Barroco (espanhol com certeza). Era pintor exclusivo de Filipe IV - o Grande. A época também é importante: governos absolutistas + contra-reforma em um país católico.

Mas o Barroco não é só religioso - é também a arte que começa a apresentar cenas mundanas, contidianas. Contidiano, mas a serviço, sempre, das elites dominantesº.

A genialidade do quadro é perceber como ele está sendo pintado - a referência espacial. E como você se coloca diante a ele.

Ah, o quadro representa uma garota da corte sendo "afeitada" pelas amas.

Como disse, à primeira vista ele é descolado: "oras, Velázquez colocou um espelho, e está pintando o que vê". Alguns aspéctos formais bem claros¹: o acentuado contraste entre claro-escuro para dirigir o olhar do espectador e a linha que separa a parte de baixo da figura (aonde se encontram a maioria das representações humanas) e a parte de cima (formados por quadros, o que seja) [essa "linha" está entre a porta e os quadros].

Porém um quadro chama a atenção. À esquerda da porta (em referência ao espectador) vemos um quadro mais claro. Como já dito, no Barroco, o que está "claro" é o que se deve ver. Ele não é só importante por estar claro; a representação saindo pela porta (ou entrando) parece apontar para o quadro.

Nesse quadro está a figura do rei Filipe IV e sua esposa.

Agora o que intriga: aquilo pode não ser um quadro, mas sim um espelho. [Naquele momento acabara de ser inventado o espelho plano, e pela primeira vez as pessoas podiam se ver sem deformações.] Pode ser um espelho porque nós não sabemos o que está sendo pintado na tela representada (aquele com a paleta na mão é o próprio²) - Velazquez pode "estar fazendo" um retrato do rei, e a tela reflete esse momento de criação. Ou não - ele está olhando para um espelho, e a tela que pinta dentro da tela é o que vemos na arte final, e o quadro é quadro.

A intriga é a parte genial, pois a dúvida está justamente no local onde estamos nós, observadores. Ou seja, "a dúvida somos nozes³". E a tela se interpreta pelo ponto de vista que você quer ter: você pode ser o rei, ou pode ser o espelho. Ou você é o poder, ou você só é reflexo desse poder (dessa sociedade). Ou você age, ou o que tem a fazer é observar*. Essa era a sociedade absolutista em que Velazquez vivia.

Bravo.


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º essa questão pode ser amplamente discutida - e eu mesmo não acredito em uma pejorativa tão dura - mas uma coisa é certa: a arte (e principalmente naquele momento; não que hoje não ocorra) reflete os valores da classe dominante.

¹ existem alguns outros aspéctos formais que não são tão claros - se tivéssemos um close da obra veríamos que Velázquez não pinta com o que vulgarmente chamamos de "contorno" - ele faz pinceladas rápidas, e o contraste entre as cores é o que delineia a forma das representações (ao contrário do Renascentismo).

² ele não andava com aquelas roupas normalemente, nem às usava para pintar. Aquela roupa é sua vestimenta de Cavaleiro do Rei** (é isso que a cruz vermelha significa).

³ erro proposital - ver "Árvezes semos nozes"

* frase da segunda edição - originalmente "Ou você age, ou você observa". Não existe prerrogativa revolucionária, ou de qualquer tipo de ação, na obra.

** nota: a vestimenta também é importante [mas coloco sua importância aqui, pois não pode ser compreendida sem a leitura total do texto - e eu não sei em que ordem vocês lerão as notas]. Velazquez não usava aquelas roupas normalmente, nem durante seu ofício. Ele poderia ter se vestido especialmente para esta ocasião (e assim se retrata diante um espelho - e você é o espelho) ou a usava por esta na presença do rei (e era de se esperar que usasse em momentos importantes - e com o rei todos os momentos são importantes - e você é o rei). Mas uma coisa é certa: ele está apresentando sua posição em sua sociedade.

[indispensável notar que não há charada - há interpretação]

11 comentários:

Ricardo Sukys disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Ok, fag.

Diogo Bardal disse...

qual comentário foi excluído? ahaha

Renato Siviero dos Santos disse...

O cara que fez que deletou - não fui eu.

Ou alguém que pode postar deletou.

Diogo Bardal disse...

o que seraqye estava escrito ?

Renato Siviero dos Santos disse...

"This post has been removed by the author."


Eu acho.

A Esquesita disse...

Adorei isso!
Já tinha visto esse quadro na minha aula de artes na 8ª série, antes do meu professor de artes falecer.

Ele comentou o quadro um pouco parecido com a forma que vc o fez. Estava falando sobre luz e sombras tbm. Porém, ele citou a imagem do rei Filipe IV - O Grande* e sua esposa como um espelho e supôs que a menina que está sendo "afeitada" pelas damas seria uma de suas oito filhas, com uma de suas duas esposas.

Nunca tinha escutado ou lido nada a respeito de Velazquez estar olhando para um espelho. Essa interpretação é bem legal!

*Fui dar uma olhada na Google sobre o rei e achei que ele reinou tanto na Espanha (onde era conhecido como Filipe IV), quanto em Portugal (onde era conhecido como Filipe III). Na Espanha era chamado de "O Grande" e em Portugal de "O Opressor". Só de curiosidade.

Renato Siviero dos Santos disse...

Devo a interpretação a meu professor de História da Arte, Jorge Paulino.

Nessa obra concordo plenamente sua interpretação.

A Esquesita disse...

"sua" refere-se ao seu professor ou a mim????

Renato Siviero dos Santos disse...

Meu professor.

A Esquesita disse...

Hum, ok.
Eu tbm concordo.
^^