quarta-feira, 6 de junho de 2007

Ocupação IV

Com algum atraso e uma febre alta, continuo o levantamento de dúvidas sobre o movimento de ocupação. A dúvida é sempre boa, posto que podemos contribuir logo depois.

Em primeiro lugar, A) a universidade não é nenhum deus, ou dogma da igreja. O modelo utilizado no Brasil é plenamente constestável. O uso da universidade reflete uma estrutura de classe, em que os mais ricos buscam monopolizar e garantir fluxos de renda futuros, assim como postos melhores de trabalho, restringindo por meio de uma titulação (USP) o acesso a um capital cultural, digamos. Aqueles que garantem seus fluxos de renda garantem o lugar dos filhos deles nas universidades no futuro. Ela, portanto, contribui para a reprodução de uma estrutura desigual, e para o subdesenvolvimento do país. Duvide de quem peça mais dinheiro para as universidades, mesmo se ele disser que irá usá-la para democratizar o acesso, baseado em algum princípio de socialista utópico renovado sob o nome de auto-gestão.

B) A greve no setor público pede regulamentação. Desde a constituição não se regulamenta a greve, que deve atender também ao princípio da continuidade dos serviços públicos, e por isso nunca se pode estabelecer limites a ela, tampouco negociação oficial de aumentos de salários. Hoje, é tudo feito à margem da lei, e essa desorganização é prejudicial ao ajuste de interesses conflitantes.

C) Achei engraçado um amigo meu comentar, que nas assembléias, instâncias representativas estudantis era comum o fenômeno da "tratoragem". Tratoragem é quando por algum motivo escuso, as votações são atropeladas, pautas não são colocadas, reuniões atrasadas, e isso fica surpreendentemente explicítio e ninguém comenta. O método de fazer pequenas assembléias em centros acadêmicos e depois ir para as assembléias grandes não garante a ponderação, e o conhecimento pleno das informações, por sua vez não garante a democracia. Não há controles internos políticos suficientes para garantir que as decisões tomadas por aquele grupo sejam legítimas. E digo isso por experiência própria assistindo assembléias.

D) Uma universidade pública, gratuita e de qualidade é, sem dúvida uma demanda conscienciosa, e essa demanda tem substituído a da revogação dos decretos, já que as ambiguidades dele estão prestes a ser esclarecidas e ninguém quer perder a motivação de ocupara reitoria (repito que se a revogação ou qualquer outro benefício acontecer, será pela articulação política da burocracia da universidade, e de sua rede de contatos, com as instâncias políticas do governo). Universidade pública pressupõe-se regida por direito público, além de ter um propósito público, pensar no bem comum, não em interesses particulares. regida pelo direito público ela é. Gratuita ela já é. De qualidade dizem que é, embora eu discorde. Então o que pedem, uma continuação? Precisa ficar na reitoria para pedir uma continuação?

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