domingo, 3 de junho de 2007

Ocupação - I

Depois da cornetagem do Diogo, escreverei um pouco do que eu acho sobre a ocupação.

Primeiro, deixarei clara a minha ausência em qualquer debate sobre a ocupação, ou Assembléia ocorrida na reitoria - isso não desqualifica minha opinião, não só porque só a mentira a desqualificaria, como porque eu posso ter opiniões e não participar das decisões por acreditar que o modo que essas decisões são tomadas não são válidas (é o mesmo caso da pessoas que votam nulo). Mas não é isso que eu vou discutir hoje.

Meu professor, Eduardo Marques, explicou sua visão sobre o que aconteceu, pela ótica da politicagem (eu não concordo nem discordo, por não saber o que acontece nesse âmbito): para ele, grupos estudantis fora do DCE (que é o Diretório Central dos Estudantes) - muitas vezes partidários - resolveram tomar a ação de quebrar as portas da reitoria e instalar-se por lá, mesmo contra a vontade do DCE (institucionalmente, dos alunos, já que o DCE é o representante do alunos), para mostrar que o DCE é inoperante, caso conseguissem alguma coisa. Além disso, desqualificariam o DCE e começariam a tomar decisões atropelando o Diretório.

Já fazem mais de 25 dias, e os alunos ainda estão lá. A pergunta é: quando eles sairão?

Os alunos começaram a greve e instalaram-se na reitoria motivados principalmente pelos famigerados decretos do Serra, que tirariam a autonomia das Universidades públicas, já que os gastos feitos pela faculdade deveriam ser reportados para uma secretaria recém-criada, para que essa autorizasse os gastos. De fato, lendo desse jeito, é difícil não dizer que não existe uma brecha constitucional para que o Estado controle a Universidade.

Porém, os reitores das três Universidades (USP, UNESP e UNICAMP) pronunciaram-se dizendo que não acham que os decretos tiram autonomia da universidade.

O que os alunos queriam, ao entrar na reitoria, era uma posição da reitora sobre os decretos. Está certo que ela não dá uma posição quando diz que eles não afetam a autonomia, mas está certo que isso não é justificativa para a invasão de um prédio público. Se tirasse a autonomia da faculdade, a reitora provavelmente não é a favor dos decretos - se não tirasse a autonomia, ela não tem problemas com isso, e a resposta estava dada - aposto que nenhum estudante lá se importa com a posição pessoal da reitora.

Dentro da reitoria, os alunos consequiram para si o melhor amigo e o pior inimigo: o apoio de outros grupos políticos-estudantís com outras reivindicações. Melhor amigo porque apoio político é sempre bom; pior inimigo porque, como sempre acontece, a ocupação, como manobra política, perdeu o foco. Ninguém garante, hoje, que mesmo que o Serra volte atrás e rasgue os decretos, as pessoas sairão de lá. Isso porque são grupos instalados, e grupos que tem reivindicações diferentes e que não precisam fazer nada além de continuar lá; As primeiras reivindicações discutidas pela reitora foram em relação ao CRUSP (Conjunto Residencial da USP), o Bandeijão e os Circulares do Campus.

Tá, e os decretos?

Tá, e as pessoas ainda estão lá.

Hoje, tudo isso é coberto pela mídia, que nunca quis saber de estudante universitário - eles querem saber é da Tropa de Choque. Os alunos já estavam há mais de duas semanas na reitoria, e só quando a Reitora conseguiu a liminar de restituição de posse que a mídia foi para lá. A presença da mídia só garante que o choque não mate todo mundo, num re-make dos quadrinhos de Frank Miller, 300 do Butantã, porque a ocupação já foi muito mal noticiada pela Veja.

Eu não vejo como isso pode acabar rapidamente; e provavelmente não acabará democraticamente. Só que, para mim, o problema não quando isso vai acabar, mas sim que, mesmo quando acabar, a faculdade ainda terá seus dois problemas principais:

1- Ela é elitista e excludente.
2- Ela consome muito e não devolve nada para a sociedade.

Sobre o segundo problema, eu ouvi uma explicação razoável - nenhuma Faculdade da Universidade pode fechar contratos com nenhum CNPJ; ou seja, as faculdades, nem se quisessem, poderiam ter acordos com grupos sociais, sejam eles do segundo ou do terceiro setor. Esse é um problema institucional da faculdade.

O primeiro problema é o pior problema da faculdade, e são poucos os grupos que estão dispostos a discutir isso - e nenhum toma ações em relações a isso. Estou aberto à troca de idéias.

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